O PSD considera “deplorável” a situação na linha Saúde 24 e responsabiliza o Governo por ter deixado agravar a situação.
“O Governo tem irresponsavelmente deixado agravar a situação sem nada fazer, e o resultado é que os utentes seguramente estão a perder a confiança no funcionamento da linha Saúde 24, o que representa um gravíssimo prejuízo para o SNS”, lê-se numa carta que o PSD escreveu hoje à presidente da comissão de Saúde, Maria de Belém Roseira, na qual salienta que, passados três meses, o país aguarda ainda pelas “conclusões da auditoria que a ministra da Saúde terá determinado com vista a apurar a existência de eventuais falhas no funcionamento daquele serviço”.
“O único resultado visível foi o da suspensão de uma enfermeira supervisora, sem qualquer justificação fundamentada e apenas com a alegação de que seria ‘inconveniente a sua presença na empresa’”, escreve o PSD na carta, a que o PÚBLICO teve acesso.
Considerando “incompreensível que Francisco George não tenha ainda sido ouvido no Parlamento sobre a Saúde 24, apesar de a Comissão Parlamentar ter já aprovado a sua audição há dois meses”, o PSD denuncia que desde essa altura “a situação na Saúde 24 tem-se degradado acentuadamente, ao ponto de no dia passado dia 9 de Janeiro o funcionamento da linha ter já sido suspenso no call center de Lisboa entre as 08h00 e as 11h00”.
“Perante esta questão o Governo está calado, o que põe seriamente em causa a confiança dos cidadãos na qualidade e fiabilidade da linha Saúde 24”, refere o texto.
Pouco antes de os deputados do PSD fazerem chegar a carta a Maria de Belém, a Comissão de Saúde anunciava para o próximo dia 21 a audição de Francisco George no Parlamento. O director-geral de Saúde, Francisco George vai, finalmente, à Assembleia informar os deputados sobre as condições em que está a funcionar aquela linha, cujas falhas são sistematicamente apontadas por muitos profissionais que lá trabalham. Ao mesmo tempo vai também explicar se a empresa que gere aquele serviço de atendimento público está a cumprir o contrato de concessão que estabelece as regras de funcionamento. Também neste caso, os enfermeiros apontam falhas diversas, não apenas à direcção clínica, mas também à falta de formação e também em relação aos farmacêuticos recrutados pela empresa LCS- Linha de Cuidados de Saúde, do grupo Caixa Geral de Depósitos.
Considerando “a situação muito preocupante”, a deputada do PSD, Regina Bastos, discorda daqueles que insistem em situar o problema no estrito patamar laboral. “O que se passa na Saúde 24 é muito mais do que isso. Estamos perante uma situação que degenerou para a perseguição de pessoas, na sequência das denúncias que foram feitas pelos enfermeiros na carta que escreveram à ministra da Saúde dando-lhe conta das debilidades no funcionamento daquele serviço”, disse ao PÚBLICO Regina Bastos.
O BE tem uma posição muito idêntica. O deputado do BE, João Semedo, que ontem esteve reunido no Parlamento com um grupo de enfermeiros da Saúde 24, afirma que as informações que recolheu junto daqueles profissionais “são preocupantes e confirmam que não se trata apenas de um conflito laboral, mas de uma situação que se desenvolve com prejuízo da estabilidade e qualidade do serviço público prestado pela linha Saúde 24”. Num requerimento também dirigido à presidente da Comissão de Saúde onde solicita a marcação urgente da audição de Francisco George, o deputado João Semedo alude ao incidente de sábado passado no call center de Lisboa e que permitiu, diz, mostrar “ao país um conjunto de acontecimentos verificados naquele serviço (despedimentos, protestos, interrupção do atendimento, etc...) que traduzem uma preocupante deterioração da situação”.
Criada em 2007, a Saúde 24, que resulta de uma parceria público-privada, destina-se a dar assistência em cuidados de saúde, fazendo triagem e aconselhamento dos utentes.